sábado, 30 de agosto de 2014

New York, New York!

Empire State

Aldo Rossi en NY

New Museum - Saana

Cezanne - Met

Rembrandt - Met

Velazquez - Met

Novo WCT

Rock Centre

Rock Center

Rock center

Mies Van der Rohe - Seagram building

Inside Skyline

Museu de História Natural

Brooklyn Bridge

Matisse - Moma


O que mais sinto falta de Nova Iorque é do ritmo: intenso, vertiginoso, sedutor, hipnótico, viciante, lúdico. Por todos os lados, ao redor, acima e abaixo, somos  tomados pelo fluxo. O prazer do puro movimento.
Se Roma é uma cidade obra de arte – ansiamos encontrar a piazza de Bernini, a chiesa de Borromini, as ruínas do império romano – em New York, antítese por excelência da capital da antiguidade, buscamos a experiência da metrópole moderna.  Não há como pensar no Rockfeller Center como uma expressão “elevada” da arte da arquitetura, não há como negá-la, contudo, como forma urbana épica, mais escala e dimensão. Roma (assim como outras cidades históricas) opera por consolidação, camadas após camadas formam estratos de tempos geológicos.
Nova Iorque é uma cidade que deixa as pessoas serem o que são, tamanha diversidade. Judeus, muçulmanos, indianos, chicanos, sul-americanos, chineses, japoneses, italianos, franceses, italianos, alemães, hispânicos, brasileiros e americanos de todas as partes, todas as línguas se apresentam. Os números impressionam: numa cidade de cerca de 8 milhões de habitantes passam, em média,  mais de 3 milhões de visitantes por mês. Nesse espaço da multidão e movimento frenético, o turista ali não é um corpo estranho, ao contrário, faz parte da cidade. Uma Babel de línguas onde não há distinção estrita entre nativos e estrangeiros. Seria estranho, por mais paradoxal que pareça imaginar a Big Apple só com nativos nova-iorquinos. É, nesse sentido, uma metrópole do mundo tal o grau de cosmopolitismo vigente.
Outro aspecto que impacta ao primeiro olhar é a escala da cidade. O tamanho das coisas impressiona e, é claro, o ponto de referência dominante são os imensos arranha-céus com sua base gigantesca e altura estonteante. Desde os edifícios maciços de tijolo, passando pelos arranha-céus inaugurais Empire, Chrysler e Rockfeller, pelas modernas torres de vidro pós-miesianas até finalmente ás torres infinitas contemporâneas como o novo WTC.  Para arquitetos a escala física da metrópole impressiona, como também a generosidade dos passeios e avenidas: o grid ininterrupto do traçado se rebate nos arranha-céus multiplicando a sensação das dimensionalidades em fuga. Mas as quantidades não apenas são sentidas na arquitetura e no urbanismo, estão presentes na alimentação com pratos fartos, nas roupas largas, nos carros enormes dos quais a limusine é o exemplo caricato, e até na grande tela de Pollock e cia. De fato, quando se tem em conta a poderosa escala física da cidade, esse aparente exagero dos tamanhos não é extravagância ou ostentação, mas tão somente a compatibilização mais “natural” com o todo metropolitano.
Porém, a escala de Nova Iorque não se restringe ao aspecto dimensional e métrico. A outra escala é a das intensidades dos acontecimentos, dos eventos, em suma, dos programas que a cada momento se renovam. New York é uma cidade de intensidade de Programas e curiosamente com um traçado urbano tão contundentemente regular – o categórico grid – baseado em linhas e ângulos retos que se poderia dizer concebido para ser o caminho mais direto entre dois pontos. Não é o que ocorre: nunca se vai diretamente de um ponto ao outro, no meio do caminho sempre há algo para se ver, apreciar, descobrir. Não poderia ser, portanto,  outro senão Nova Iorque o lugar que o arquiteto Rem Koolhaas, numa intuição brilhante, identificou como a cultura da congestão e daí tivesse derivado a estratégia da congestão programática em seus projetos arquitetônicos e urbanísticos. Fica evidente que não basta apenas misturar usos distintos buscando uma combinação original e caprichosa, tudo depende da escala de intensidades reais e potenciais para que tal condensação programática se viabilize e suscite reações inesperadas.
Mas Nova Iorque não é só aceleração. O Central Park com seu traçado romântico e pitoresco no coração do grid é a pausa que contrasta e evidencia este estado de ser em fluxo veloz. Novamente, é nas telas de Jackson Pollock (mais do que no Boogie Woogie de Mondrian) - que encontramos a mais adequada tradução dessa aventura urbana: o grande formato, as redes diversificadas e sobrepostas, a conturbação contínua, a movimentação inebriante, as diversas velocidades do dripping, a alternância entre traços velozes e pontos de coagulação. Assim, estamos em constante movimento, mas este não se restringe ás exigências da produção, ao contrário, oferece aberturas para o ócio, para o lúdico e para a pura apreciação descomprometida. Estar à deriva é um dos encantos da cidade. E nenhum ponto condensa mais essa conjunção entre atravessamento e coagulação que a Times Square , mais que urbana, hiperurbana segundo Marshall Bernman[1] tal a vibração ininterrupta, a densidade de acontecimentos, a agitação contínua que leva a um índice inigualável da experiência urbana da modernidade. Nesse palco hiperurbano, é possível ser também o Outro, se permitir “expandir além de si mesmo”, “ser uma estrela” (BERMAN, p. 18)  na multidão sob o foco estreboscópico dos painéis de led dos anúncios publicitários.
New York é, em si, uma personagem, pois atua e é representada em diversas formas de expressão, das quais indiscutivelmente o cinema é um dos mais emblemáticos. Os tipos característicos, os locais marcantes, os edifícios icônicos palco de grandes eventos, o grande Central Park, tantos são os set de filmagens, as locações marcantes. Não há como não ir ao Central Park e não reviver “Hair” de Milos Forman, passar pela ponte do Brooklin e não lembrar de “Manhattan” de Wood Allen, não sentir a temor ao passar pelo Dakota Building do “Rosemary’s Babe” de Roman Polanski , dirigir pela 6th Ave ou pela Times Square e pensar na neurose purificadora de Travis Brickle em “Taxi driver” de Martin Scorcese. Isso sem contar com os inúmeros filmes que tiveram no Empire State ou no Chrysler Building ícones da metrópole. Passar por tais lugares produz uma espécie de estado de suspensão em que não conseguimos mais decidir entre a realidade e a fantasia e essa sensação é uma sensação de intensificação, na qual a realidade se vê incrementada pela ficção.
Em New York a tradição é a da modernidade na era da hipermodernidade, da transformação contínua ocorrendo sobre um grid inflexível e em meio a quadras gigantescamente maciças. Uma experiência do ritmo moderno, de sucessão de continuidades e descontinuidades, da embriaguez viciante e vertiginosa pela multiplicidade e simultaneidade, do consumo mas também do instante lúdico com o inesperado e o curioso. Da alta cultura à cultura de massa, tudo pede para ser experimentado, participado,  e não há como ser apenas ou ator ou expectador, senão uma mistura dos dois. Experimentar, enfim, essas novas combinações é o que nos torna mais vivos, vivazes. Justamente ali, onde a escala da metrópole parece desmedida, construída para além da escala humana, o eu não é esmagado, antes parece sublimemente revigorado.


Times Square

Times Square

Memorial Obelisco

Memorial - Rio das almas perdidas

Pollock - MOMA

Johns - MOMA

Flatiron

Hamburguer 
Cupcake - Chelsea Market

Lego Store
Chelsea market

Serra - Dia Beacon






[1] BERNAM, M. Um século em Nova Iorque – Espetáculos em Times Square. São Paulo, Cia das Letras, 2009.

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